segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Quando o Vizinho é um Trapezista

No final do novo espetáculo da lona "Meu Vizinho Trapezista", vi uma das mais belas imagens das artes cênicas de Cabo Frio. Rostos em formação e brilho no olhar, observando o palhaço-mímico Prezepino fazer sua mímica de finalização do espetáculo. Estava consolidada, definitivamente, o início de vida circense de Cabo Frio.

O Cabaré da trupe "Meu Vizinho Trazpezista" deu um show de presença no picadeiro, resultado de muita transpiração e
ensaios incessantes, a resposta veio com a alegria da platéia presente. Foto: Thiago Andrade.
O início da história contemporânea do circo em Cabo Frio, começou em 2013, nas oficinas de aéreos da Maria Paula, tão logo as a aulas começaram, uma trupe foi surgindo, com os alunos dedicados que aos poucos foram, também, consolidando seus espetáculos e suas ações artísticas em favor da construção de uma linguagem circense, praticamente, só de números aéreos. Lembro que nesse período, dei minha primeira oficina de palhaçaria para os alunos do OFICENA, interessados na arte circense. Dessa forma, o que parecia ser o reinício da arte do circo em Cabo Frio foi se consolidar 4 anos depois, quando, finalmente, a lona "Meu Vizinho Trazpezista" abriu o picadeiro.
A soma dos esforços e a resultante artística fizeram
a diferença no primeiro cabaré noturno da lona
"Meu Vizinho Trazpezista" - FOTO: Thiago Andrade.
As primeiras 05 apresentações diretamente na lona, foram todas para crianças e em horário diurno, sempre com casa lotada, atraindo famílias cabofrienses e turistas. Podemos dizer que a lona estava ainda vivendo sua fase larvária, se descobrindo, aprendendo a lidar com o público e inventando sua própria maneira de contribuir para a tradição das artes cênicas locais. Logo depois, a Lona dominou os aspectos de construção do espetáculo e virou um point de trabalho para quem faz esse tipo de arte. 
Quem frequentou a Lona nos últimos meses, viu diversas trupes locais se apresentar nesse novo espaço cultural independente da cidade. 
No dia 25 de novembro, a lona alcançou, definitivamente, sua maior idade, lançando um Cabaré para adultos, abrindo caminho na tradição do circo teatro, com um belíssimo espetáculo recheado de números aéreos e com a presença de um público composto por famílias,  artistas e intelectuais da cidade. Foi uma noite memorável, inesquecível e a estréia de uma trupe completamente unida e pulsante, cheia de energia e fé na arte do picadeiro. O resultado foi o que se esperava e já com histórias novas pra contar, como um belíssimo número chamado "Solo", na verdade um Duo, feito por um casal de artistas, que emocionou a platéia, tal a energia de amor que emanava. O público, arrebatado, aplaudiu em pé.
Com toda a renda da noite doada, pelos artistas, para o espaço, a Lona procura agora, incentivo para completar sua construção em alguns detalhes necessários para que o público vá, cada vez mais, encontrando um lugar aconchegante para, finalmente, respirar a arte do circo em Cabo Frio. Agora, é aguardar as novidades, pois, temos certeza que o que começou em 2013, nunca mais vai parar. Acreditamos que a cidade dará seu devido valor.

Jiddu Saldanha - (Blogueiro)


domingo, 18 de setembro de 2016

ESLIPA. Onde a mímica encontra o palhaço!

Desde minhas primeiras aulas, como professor de mímica para palhaços, na ESLIPA, algo me chamou a atenção. Sua metodologia. Com uma pedagogia libertária, fundada no conhecimento dos mestres palhaços, a ESLIPA flerta com o conhecimento em diversas nuances. De um lado, valoriza o conteúdo teórico e a percepção histórica do fazer "palhascesco", dentro de um universo onde o aprendizado é oferecido, juntamente com o conhecimento, por outro lado, uma escola focada no empirismo, onde o aperfeiçoamento da técnica, perpassa pelo contato permanente com o eu palhaço através da reflexão e prática desta arte.

Uma bela turma em 2012. Quatro anos depois, a ESLIPA segue crescendo
e proporcionando o que há de melhor, num aprendizado para palhaços.
Em 2012, circulando pelos espaços culturais do Rio de Janeiro, a ESLIPA ainda flutuava aqui e ali para realizar suas aulas. Lembro que fui dar aula na lona Crescer e Viver, e lá, reencontrei meu amigo, Vinícius Daumas. Também tive a oportunidade de encontrar a pesquisadora Alice Viveiros de Castro. Um manancial de conhecimento e generosidade, tendo como foco principal, os alunos. Gente focada e que hoje faz bonito no mundo da arte, Patrícia Ubeda, Lili Castro, Dio Jaime Vianna e tantos outros que potencializaram sua relação com a arte da palhaçaria.
A ESLIPA é uma escola com modelo e pedagogia, únicos, longe de formalismos e caretices, a escola vai direto ao ponto, leva o profissional que trabalha no ofício, aqueles, obviamente, que percorrem uma filosofia na vida artística de seu criar cotidiano, assim, o contato com profissionais como Pepe Nuñez, Biribinha e Lili, entre outros, transforma uma linguagem que transgride as formas tradicionais para respeitar a tradição, um paradoxo, típico do mundo contemporâneo, não se pode falar em palhaçaria se conhecer os verdadeiros palhaços.
Em 2015 e 2016, a Tive a honra de voltar a dar aula na ESLIPA a convite do meu mestre e guru Richard Riguetti, encontrei um ambiente velho e novo. Velho porque a valorização à tradição, não ser perdeu, o que dá à ESLIPA um vigor único; novo porque tudo está nascendo e renascendo ali. Desde o figurinista e o estudo de ambientação para uma reprise, até a reflexão e abordagem sociológica, importante, para se discutir, acima de tudo, a ética por trás da vida de um artista que vai devotar seu destino aos picadeiros.

Estudar mímica com palhaços e cima de um picadeiro, é um sonho vivido.
Aula em 2016, na Escola Nacional de Circo, para alunos da ESLIPA.
Em 2016, participei de uma roda, das mais bonitas, foram dois dias de aula e um mergulho na essência e na criação, mas, o mais bonito foi ver nascer e se resolver, um conflito dentro da escola, uma discussão profunda sobre relacionamento humano, um debate e uma mediação que levou todos os alunos a emitirem seus pensares sobre ética e visão de mundo. No final, um abraço coletivo, muitos abraços e muitos reencontros de emoções, em seguida, uma aula de mímica para palhaços.
Desde que comecei a fazer mímica, em 1989, fui tocado pela energia do meu mestre Everton Ferre, tenho sido fiel à sua visão de ética e procurado fazer da pantomima, não apenas um ganha pão, mas uma forma de ver e perceber o mundo, através das oportunidades que recebo, vivo e vejo na rotina constante do meu fazer diário. Não é fácil ser mímico, nada é fácil. Lidar com a invisibilidade é bem mais complicado do que enfrentar o silêncio, já que este, para nós, os mímicos, é uma forma de eloquência também. Levar para uma sociedade um olhar e tirar dela outros olhares para vida, este tem sido o grande desafio e é por isso que eu simplesmente gosto de estar entre os jovens e a equipe da ESLIPA, uma escola do coração.

Jiddu Saldanha - Mímico e Blogueiro

sábado, 17 de setembro de 2016

Domingos Montagner - Uma Salva de Risos para o Grande Palhaço!

Em alguns anos, a crônica artística brasileira vai lembrar de Domingos Montagner como um grande palhaço, um artista circense, um poeta do lúdico. Antes de seu sucesso na TV, Rodrigo em sua Cia. Lamínima, fizera grande sucesso com o espetáculo "A Noite dos Palhaços Mudos", dirigido por Álvaro Assad. Tempos depois, a mesma história, escrita pela cartunista Laertes, virou filme dirigido por Juliano de Lucca. Uma história que encantou o público brasileiro, tendo viajado e ganhado grandes prêmios pelo Brasil a fora.




Vivendo momentos e navegando nessa nave mãe chamada terra, todos de algum modo, caminham em direção à morte. Morrer é um sentido que talvez explique, de fato, a vida. A razão de nosso existir mais pleno, a forma como pulsamos para a vida e a maneira como caminhamos, em direção a nossos objetivos, nossos delírios, nossos sonhos.
O mundo de um verdadeiro palhaço, com desfecho trágico, pode ser uma metáfora de nossa dor, de nossa existência, de nosso caminhar e respirar cotidiano. Domingos, de alguma forma, deixa sua marca para sempre, aderente em cada coração que teve a honra e o prazer de contemplar sua vida artística e suas criações poéticas.
Embora não tenha acompanhando sua vida artística na TV, lembro-me apenas de tê-lo visto, nos anos 90, peregrinando pelos teatros e eventos artísticos em algum lugar do Brasil. São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, talvez. O fato é que a gente reconhece um colega de profissão mesmo não sendo amigo no sentido mais presencial. Saber-se portador de sonhos que se aproximaram e que de alguma forma se uniram, é a razão maior desta pequena homenagem da Cidade de Palhaços a este grande artista.
Sendo assim, só me resta saudar este grande artista com a frase preferida de um outro palhaço incrível, o "Café Pequeno", de Richard Riguetti: Para Domingos Montagner peço a todos, UMA SALVA DE RISOS...

Um filme de Juliano Luccas, veja o Trailler de
"A NOITE DOS PALHAÇOS MUDOS"


Jiddu Saldanha - Blogueiro

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Sapato Velho no Velho mundo. Dio Jaime Vianna

Se tem coisa que a gente não pode duvidar de Dio Jaime Viana, é sua paixão por Cabo Frio. Sua ligação à cidade é profunda. Lembro muito bem, no FESQ - Festival de Esquetes de Cabo Frio, sua presença marcante, sempre ajudando o evento a dar certo e contribuindo para ajudar o teatro da cidade a caminhar com as próprias pernas!

Será que é Amsterdã ou Paris? Ah, não, é OSLO, na Noruega... No velho mundo, europa,
a Cia Sapato Velho levando alegria para os espaços públicos.
Quando Richard Riguetti me convidou para dar aula de mímica na ESLIPA - Escola Livre de Palhaços do Rio de Janeiro em 2012, encontrei por lá, o Dio Jaime e já estava impressionado com sua performance como palhaço, mas ainda não conhecia sua história. Observei cada movimento deste artista singular e percebi seu voluntariado, sua presença. Aquele cara que sempre estava perto pra ajudar. Isso sempre foi maior que ele. Bastava aparecer uma demanda e ele lá estava, fazendo o que fosse necessário para que o show não parasse. 
Com esta mensagem positiva, não tardei a perceber que estava diante de um dos grandes palhaços do Rio de Janeiro, hoje. Ele foi conquistando cada pedacinho de sua paixão e construção artística, valorizando as oportunidades e hoje, suas vitórias e as vitórias de sua Cia. de Circo Teatro, "Sapato Velho", são merecidas e estão se tornando referências para os novos palhaços, principalmente os de Cabo Frio, cidade onde está nascendo um forte movimento artístico de palhaçaria.
Acumulando experiências e levando Cabo Frio no coração, Tatuí, o palhaço
que é a criação de Dio Jaime Vianna
Passeando aqui e ali, pelas redes sociais, eis que deparo com fotos deste artista, circulando pelo velho mundo. Sua lista de visitas a países da Europa é uma das maiores que já vi. França, Holanda, Suécia, Noruega e até a Estônia. O mais bonito é saber que ao chegar em cada cidade, nosso artista faz questão de ir trabalhar na rua. Sem medo de ser feliz, e compartilhando sua brasilidade em terras outras, Dio Jaime já ganhou as ruas de Paris, Amsterdâ, Estocolmo. E agora ruma para Tálin. Impressionante é ver o quanto ele se dedica e se entrega à sua razão artística de viver e vai fazendo de cada oportunidade, uma experiência única e agregada ao seu personagem, o querido e irreverente, Tatuí.
Em 2015, quando ainda estávamos gestando, no TCC-Teatro Cabofriense de Comédia, o espetáculo "Palhaçada à Brasileira", Dio Jaime ofereceu ao grupo uma oficina de palhaçaria. Todos aprenderam muito e se entregaram à vivência proposta por ele. Muitas pistas sobre a arte da palhaçaria foi transmitida de forma generosa ao grupo e todos se sentiram bem felizes com novos conhecimentos e aprendizados que hoje, contribuem para melhorar, a cada dia e a cada momento, o trabalho que o grupo vem desenvolvendo na Região dos Lagos. Algum tempo depois, e durante a convivência, Dio Jaime fez parte de um momento muito importante do grupo. A comemoração de "um ano de TCC" e, junto, a centésima apresentação do grupo, em frente ao teatro municipal de Cabo Frio. Mais uma vez, não faltou a ajuda voluntária desse grande artista, cujo universo oferece a gratidão agora, em sua viagem pelo velho continente.
Durante a centésima apresentação do TCC, dio Jaime deu aula até o ultimo minuto, contribuiu muito, com sua TUBA, isso mesmo, Dio Jaime é obcecado por metais, e tem uma coleção deles, dentre os quais, uma tuba que emite um som semelhante àqueles de chegada de navio em porto ou de trens partindo de estações longínquas. Com sua tuba lúdica, Dio Jaime presenteou o TCC com um público que migrou da praça da cidadania para a frente do Teatro Municipal, atraídos pelo som daquele instrumento, logo depois, a festa foi garantida e todos se divertiram muito, apesar de ser um dia de chuva. Com o espaço lotado, o grupo ainda pode contar com generosas colaborações no chapéu.
Com seu eterno companheiro de picadeiro, Paulo Hartung. 
Uma  história da arte, escrita com trabalho e disciplina.
Foi depois dessa singular vivência com o TCC, que pude conhecer, de fato, a figura deste grande artista. Não só sua generosidade, como também, sua visão rigorosa e disciplinada do fazer artístico. Os momentos vividos com o pessoal do TCC, sem dúvida contribuiu para os resultados, hoje, conquistados pela persistência e autoaprimoramento do grupo. E é muito bom ter a figura de um artista assim, na nossa ficha técnica e, mais que isso, construindo uma amizade profissional. A partir dessa relação direta com meu grupo de teatro, fui encontrando Dio Jaime e construindo mais foco com sua amizade. Ele esteve no Fest Solos, e outras vezes pude ver sua performance palhacesca pelas ruas de Cabo Frio, onde, claro, seu sucesso foi incrível.
É muito bom ver um artista deste naipe, ligado à terrinha, "minhoca da terra", como dizem por aqui. Dio Jaime é dessas pessoas que ajuda a cuidar daquilo que é um dos mais preciosos bens de Cabo Frio, esta cidade banhada pelas águas frias do atlântico e com uma magia singular, que faz com que seja uma das principais rotas do turismo nacional e internacional. Mas não há dúvida que os artistas são parte do maior tesouro da cidade, ainda que não tenha sido percebidos, de fato, pela cúpula política, o que não é nenhuma novidade em se tratando de Brasil.

Jiddu Saldanha - Blogueiro.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Meu Vizinho Trapezista - A Lona.

A trupe "Meu Vizinho Trapezista", praticamente vi nascer e já havia me apaixonado ha muito tempo. Agora, praticamente 3 anos depois, é bonito ver o salto que este grupo deu em direção à sua autonomia. O trabalho discreto realizado no Teatro Municipal de Cabo Frio, fez nascer um grupo de artistas circenses que, podemos dizer, é uma primeira geração REAL desta arte, em Cabo Frio com possibilidade de grande expansão para a vida artística local.
Talvez a memorialista Meri Damaceno, tenha alguma informação sobre uma possível "história do circo" em Cabo Frio, se ela não tiver, certamente, o "Meu Vizinho Trapezista" inaugura uma nova e forte tradição na terra do sal.

Três anos antes.

Maria Paula, professora e agora empresária da área
de circo, pioneirismo em Cabo Frio.
Lembro bem quando vi, pendurado no teto da sala Ângelo Samerson, no Teatro Municipal, Inah de Azevedo Mureb, um longo tecido de cor vinho e um colchão preto e grosso, forrado com linóleo. Perguntei ao meu colega do OFICENA, o diretor teatral Italo Luiz Moreira, o que estava acontecendo e ele me respondeu. Parece que vamos ter aula de tecido no teatro. Em seguida, vejo entrar pela porta a atriz Vivi Medina e o multi artista Azul Casu, logo depois, Júlia Lima. A professora, Maria Paula, com seus dreds inconfundíveis aparece, calma e sorridente. Começa a longa viagem que irá culminar na primeira lona independente de circo da história artística de Cabo Frio.
Dia 05 de junho

Dia 05 de Junho de 2016, um dia de chuva, a lona estréia, muito emoção, registrada pela fotógrafa e participante da trupe, Mariana Ricci, no texto abaixo.

Domingão, chuva. Caí da cama cedinho com uma chuvinha chata que parecia que ia ficar conosco o dia todo. Quase cancelamos tudo... quem sairia de casa num domingo chuvoso? Mas lá pro meio dia, eis que o céu abre um pouco. Uns pedacinhos de azul, nuvens mais branquinhas... Sol!!!!! 

A tarde foi começando e foram todos chegando. A Lona foi ficando preenchida de gente e de energia. Sorrisos, narizes de palhaço, luz, alguns mosquitos e muito amor... De longe parecia que a lona ia inflando com tanta coisa boa que pairava lá por baixo.
Portão aberto e fiquei surpresa pro tanto de gente que veio e o tanto de criança que apareceu! Zéfiro, Lua e Ravi revezaram nas sonecas e ficaram até o fim, cheios de purpurina e sono! 
Começamos com a nossa mestra Maria Paula fazendo as honras da casa. Tão lindo aquilo tudo pronto, iluminado, com picadeiro de fita azul com crianças sentadas grudadinhas nele. Mauricio Cardozo foi nosso anfitrião e chamou, após poesia lindona feita pra'quela tarde, o pessoal do TCC - Teatro Cabofriense de Comédia, com a Palhaçada à Brasileira. Em seguida chegou a palhaçada Florência arrasando de Whitney Houston e tirando gargalhadas da plateia! O palhaço/iluminador/malabarista Hugo Leal foi tudo isso e mais um pouco ajudando a retirar e liberar os aparelhos da trupe. Nesse momento a Maria Paula e a Tatiana Prota Salomão entraram em cena para apresentar o primeiro número na lira. As duas bonecas brincaram e se divertiram! 
Mantendo a energia no alto, o palhaço Aris brincou com a plateia chamando pro picadeiro um casal que se divertiu tanto quanto nós que assistimos rs. E pra fechar o primeiro ato, o acrobata Augusto Pereira apresentou-se super sensualmente no tecido. Hehe 
Intervalo pra tomar uma cerveja e comer os rangos deliciosos que a Julieta Viannae a Maria Paula fizeram e voltamos pro segundo ato. Os atores Paulo Motta eGustavo Vieira da Cia Vapor encenaram "O jogo das criadas", com uma história baseada na obra "As Criadas" do dramaturgo francês Jean Genet. Depois eu entrei pro meu número de tecido... Com o coração na mão, morrendo de vergonha, ansiosa... Entrei antes do Maurício me anunciar. Mas foi só dar a primeira subida no tecido que tudo passou e consegui fazer meu número do jeito que eu queria. 
O palhaço Aris volta logo em seguida pra se despedir brincando mais uma vez com a plateia e depois dele Maria Paula volta pro seu número lindo, foda, incrível no trapézio!!! Muito amor em ver essa mulher voando lá! Pra ficar melhor, depois veio a Bruna Dawes M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A na lira! Pago pau pra ela desde os ensaios desse número. Fodão. 
Nosso trapezista Azul Casu foi jogado pra cima do trapézio pelo Hugo e se divertiu pendurado. Amigo cabeludo e com cara de maluco, pra variar, tirou onda. E fechando as apresentação, o lindo duo da Bia Sampaio com o Augusto, arrancando alguns suspiros e muitos aplausos. As apresentações haviam acabado mas ainda rolou som com nossa também integrante da trupe, Vivi Medina e o Azul também fez um som.
Nos cliques quem esteve atrás da máquina foi o Thiago Andrade, o Tchu. Sorrateiro e certeiro, encontrou a boa luz e o amor em tudo o que estava acontecendo naquela tarde. Entre o colo com o Zéfiro e as fotos, ele ainda me deu força na hora em que quase desisti de tudo e saí correndo. Gratidão por tudo sempre, Tchu. 
Esse é só um resumo de tudo o que aconteceu segundo o meu olhar. Que tudo tenha sido tão perfeito pra vocês quanto foi pra mim.
Até o próximo e vida longa a Lona Meu Vizinho Trapezista!

Dia 26 de Julho de 2016, um segundo momento. Belíssimo encontro envolvendo duas trupes de palhaços e o palhaço solo Cabelin, além das atrações da trupe "Meu Vizinho Trapezista". A primeira lona circense de Cabo Frio se afirma como um espaço independente e com farta programação para as famílias.

O primeiro momento a gente nunca esquece: Foto - Manuela Ellon
Atendendo ao convite de Maria Paula, agora empresária de circo, em Cabo Frio, diversas trupes invadiram a lona, proporcionando excelente entretenimento para as famílias de Cabo Frio. Dessa vez, as crianças podem ficar sossegadas, porque não vai lhes faltar atividade artística de qualidade, algo importante para a formação de caráter e construção de subjetividade. A atividade circense promove, não só, o riso coletivo, mas também, a alegria compartilhada e o trabalho farto para profissionais da área artística. Com uma lona independente, a cidade passa a ter um espaço com muita força e energia para buscar sua autonomia artística no cenário nacional, podendo virar rota de fortíssimos momentos para saúde artística local.
O TCC - Teatro Cabofriense de comédia, faz sua participação como convidado pela segunda vez. Levando trecho do seu espetáculo "Palhaçada à Brasileira", a 6 meses em cartaz pelas ruas e praças de Cabo Frio. Uma experiência incrível, que deu, além de oportunidade para o grupo assistir outros profissionais do picadeiro, praticar sua forma artística para uma platéia composta, principalmente por famílias, o que deu um grande significado ao trabalho do grupo, que está próximo a completar 2 anos de atividade.

Uma apresentação em 2015.

Chorei quando vi, no palco do Teatro Municipal de Cabo Frio, a bela trupe de circo aéreo, composta por estudantes de circo do Teatro Municipal de Cabo Frio;  fazendo a lindíssima performance "Meu Vizinho Trapezista". Foi um momento de encanto, de luz, de vida e de eternidade. É nessas horas que nós, humanos "imperfeitos", vibramos com nossa alma e coração e nos tornamos, na medida do possível, portadores do melhor de nossa humanidade. Nosso existir, só pode ser pleno, quando mergulhamos nas profundezas de nós mesmos, para arrancar de lá, o que temos de melhor. Nossa víscera criativa.
  Eu juro que não queria escrever essa crônica, assim, desse jeito. Eu só queria dizer que o espetáculo foi bom, que gostei, que chorei, mas há algo de maior nisso tudo, alguma coisa despertou em mim, nos meus 30 anos de teatro, na minha convivência singela com a arte do circo, minhas retinas, já tão fatigadas, como no dizer do poeta Carlos Drummond de Andrade, "nunca mais poderão se esquecer daquele acontecimento". Durante a performance dos artistas da oficina de circo aéreo, eu me perdi, me encontrei e viajei pela minha infância, meus amores, meus fracassos, meus medos e minha solidão, esperança e redenção.
Aplaudi de pé, porque o circo aéreo é uma vitória, mais uma vitória sobre nosso viver e respirar cotidiano. É um exemplo de que nunca devemos desistir, de que temos que trabalhar, com  paciência, um pouquinho por dia, um minuto a cada hora, uma gotinha no oceano. E se isso for feito, numa espécie de quase silêncio, aceitando a curva de cada momento inesperado da vida, o resultado chega e quando chega, nos pega de surpresa.
Um dia, todos nós seremos poeira de estrela, em algum momento, cada um de nós irá se confrontar com o momento final da vida. Eu, escolhi um dos que vão reger meus últimos momentos. Vou ver a luz do teatro acesa e por ela o desfile de uma rapaziada lúdica bailando na energia do "Meu Vizinho Trapezista". É assim que gostaria de ver, meu barco, seguindo por águas tranquilas no fluxo da poesia da arte que enche o coração.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Todo palhaço tem a mala que merece!

Um dos mais importantes acessórios de um palhaço, a "Mala do Palhaço", mais do que depositário de objetos preciosos para a construção da cena, é um símbolo da transitoriedade deste artista por diversos rincões. A mala traz sempre uma lembrança, um objeto e a possibilidade de novos encontros.

A Mala da Fama, que pertenceu ao 
palhaço PRESEPINO, hoje em dia e
mais famosa do que seu dono.
Quer conhecer um palhaço de verdade, repare a mala que ele carrega. A do palhaço Rufino, por exemplo, parece caber uma pessoa dentro. Tem cores primárias e comunica diretamente e de forma simples, a possibilidade que este objeto gigantesco, traz como construção e aquecimento de uma boa cena de palhaçaria. Pelas praças de Cabo Frio, este palhaço tem sido a grande alegria da cidade, não só pela constância e qualidade de seu trabalho, mas também, pela capacidade de transformar seu objeto de cena em, praticamente um cenário que pode dar dinâmica ao contexto da cena. De dentro da Mala do Palhaço Rufino, sai um mundo, desde seus objetos cênicos como acessórios que são distribuídos pela extensão do espaço cênico escolhido por ele e sua eterna companheira, a palhaça Coizinha. A Mala do Genial palhaço Slava Polunin, é ainda maior, podendo gerar possibilidades cenográficas e criar contextos artísticos inimagináveis pelo público. O mais incrível é ver a forma habilidosa como este genial artista, manuseia com total desenvoltura a imensa quantidade de objetos que sua mala carrega. 

Um objeto simples, com cores primárias e o seu famoso bordão "Nhém", a mala do Palhaço Rufino, é um objeto que que tem
diversas funções em cena, além de trazer, praticamente, seu espetáculo do lado de dentro. 


Dio Jaime Vianna, quando deu sua generosa oficina ao TCC - Teatro Cabofriense de Comédia, sobre noções gerais da arte da palhaçaria, foi gentil e abriu a mala do seu palhaço, o Tatuí, simplesmente incrível, Dio, chegou a dizer que tem coisas que ele compra e coloca na mala mas não sabe quando e nem como vai usar. Isso remete, principalmente, à atitude de manter sempre uma mala de possibilidades para dialogar, na cena, com o público, através de um improviso até mesmo a descoberta de uma nova cena de palhaçaria, que pode surgir a partir de uma simples e direta relação com a criatividade e pesquisa, feita ali, logo em frente ao público. Foi num momento desses que, conversando com a palhaça Coiszinha e o Palhaço Rufino, ouvi da própria voz e bom som: "Nem tudo o que tem na mala do palhaço pode ser mostrado". O palhaço carrega segredos dentro de sua mala.
Lili Castro e a coleção de malas da palhaça Dona Marlene, a
maior delas, roubada, infelizmente...
Na virada para o ano 2000, a mala do meu palhaço, Prezepino, ganhou um presente, tornou-se mais popular que o dono, uma simples brincadeira feita com o ator Mario Tourinho, sobrinho de Oscarito, ambos já falecidos; começou a correr de mão em mão pelo Brasil a fora, tornando-se bem mais famosa do que o próprio Prezepino. A brincadeira foi tão boa, que, 16 anos depois e com mais de quinhentas mil pessoas fotografadas, a Mala da Fama, como ficou conhecidas, hoje tem até réplica, mas está guardada como uma relíquia. Sua utilidade, antes, era apenas para carregar o nariz e o pandeiro do Prezepino, hoje, é um ojbeto decorativo que já participou até mesmo de salões de exposição e percorreu a mão de modelos, artistas e profissionais de todas as categorias, pelo mundo showbiz brasileiro. Prezepino, depois de um longo e tenebroso inverno, retomou sua vida artística ao lado de uma nova geração de artistas Cabofrienses e agora, está decidindo qual mala irá usar, de fato.
A arte da palhaçaria é rica em possibilidades, disso todos sabemos, e o repertório de um palhaço passa, também, por objetos que ele carrega, quer seja como adereços de cena, para construir suas gags ou, ainda, e, principalmente, pela mala que ele se permite carregar, é aí que reside boa parte de sua conexão criativa com a platéia e o mundo de sua arte, e si.

Sobre malas roubadas.

Dona Marlene, a palhaça divertidíssima, criação da artista
Lili Castro. Vão se as malas mas ficam os sonhos!
Quase todos os palhaços que conheço, tem uma história com "malas roubadas", isso mesmo, não é fácil você investir e depositar toda sua alegria, amor e criatividade num objeto tão significativo e depois se dar conta de seu desaparecimento. Quando procurava a foto da mala da palhaça "Dona Marlene", criação da querida Lili Castro, ela comentou comigo o sumiço de sua mala maior, que compõe a coleção de sua personagem. Isso me fez lembrar o desaparecimento, também, de uma de minhas malas que, na época, eu chamava de "Mala do Sonho"! Foi com essa mala que fiz a primeira apresentação, ainda no ano 2000, do primeiro "Simpósio Internacional de Contadores de Histórias", na biblioteca estadual do Rio de Janeiro. Dois anos depois, esqueci a mesma mala dentro de um táxi e o taxista conseguiu fazer contato comigo e devolver-me. Já, na segunda vez, em 2003, não tive a mesma sorte. Eu e minha esposa, saímos quase fugidos de dentro de um táxi, cujo profissional neurótico começou a falar de extermínio de crianças, ficamos em pânicos e saltamos do carro "quase em movimento", o tal taxista levou nosso bom humor, e a mala cheia de objetos e figurinos do meu palhaço, "Prezepino", que até hoje, briga comigo... triste fim de um objeto de sonhos!


quinta-feira, 2 de junho de 2016

São Pedro da Aldeia - O Despertar da Palhaçaria!

Seguindo a trilha de levar cada vez mais a arte da palhaçaria teatral para a Região dos Lagos, o projeto OFICINA LIVRE DE PALHAÇARIA TEATRAL, da Cidade de Palhaços, segue agora para São Pedro da Aldeia, onde pretende, de um lado, consolidar a ação desta arte, por outro, estender uma prática que, em Cabo Frio, já se faz, cada vez mais, presente.

A palhaçaria, uma rica narrativa que engrandece nossa Região, agora, vamos 
invadir São Pedro da Aldeia.

Foi em 2013 que inauguramos nosso projeto junto ao OFICENA - Curso Livre de Teatro do Teatro Municipal de Cabo Frio, numa ação que envolveu uma complexa oficina de palhaçaria para pessoas muito jovens, alguns com menos de 18 anos de idade, outros mais velhos. Mas nem todos abraçaram essa forma de arte. A ideia era dar apenas noções gerais sobre tal prática artística e nossa primeira oficina contava, ainda, com uma descoberta pedagógica, para sabermos qual a melhor forma de construir conhecimento artístico e, ao mesmo tempo, desvendar os mistérios da arte do palhaço.
Tempos depois, os frutos apareceram, jovens que fizeram aquela primeira oficina, nunca a abandonaram, foram se apresentando aqui e ali, e ao mesmo tempo, estimulando em nós, a atitude de retomada desta prática, que, sabemos, é cheia de altos e baixos. Não dá pra dizer que "não tem palhaço na Região dos Lagos", esta tradição artística não se explica apenas por ter ou não ter o profissional, sabemos que a arte da palhaçaria é capilar e corre silenciosa, pelos meandros socioculturais de qualquer região do planeta.
Surgida na terceira oficina de palhaçaria, oferecida pela Cidade de Palhaços
Cenoura Fofógrafa é uma criação de Ana Paula Azevêdo. uma paixão que
despertou um coração de uma artista.
O palhaço é um ser construído em oficinas de aprendizado, mas também é um artista que acontece. É algo como um chamado, um acordar e uma descoberta, ou, simplesmente, a retomada de uma tradição. Lembro de ter tido uma conversa com Dio Jaime Vianna, hoje, um dos grandes profissionais da palhaçaria do Rio de Janeiro, onde ele afirma que seu avô era palhaço. Quando ele foi estudar tal arte, praticamente retomou uma tradição que já existira na família, o que nos leva a um grande impasse, como mapear uma arte que tem forte tradição popular e pouca historiografia? São fatos e situações que nos leva a mergulhar numa busca e pesquisa cada vez mais necessária para trazer uma realidade para a nossa época, para o mundo que habitamos, atualmente.
Em São Pedro da Aldeia, numa bucólica cidade da região dos lagos, vamos reinaugurar uma tradição que, talvez, já tenha existido por lá, como saber? Alguma narrativa sobre o assunto? Não sabemos, mas podemos descobrir a partir dessa nova relação da palhaçaria, dentro do contexto da própria cidade em si. Inúmeros jovens de São Pedro da Aldeia estudam e fazem teatro em Cabo Frio, mas agora, graças ao apoio da Associação de Artes Marciais Tao T'ien Ti da Região dos Lagos, que cedeu suas instalações para que pudéssemos trazer de volta para a cidade, uma possibilidade criativa, de mergulho e aprofundamento numa arte complexa e marcante que, certamente, vai mexer muito com o coração e a alma dos participantes.
Formados na segunda turma da oficina livre de palhaçaria da Cidade de
Palhaços, o TCC - Teatro Cabofriense de Comedia, hoje, faz sucesso nas
praças, teatros e escolas da Região, com sua hilariante trupe de palhaços.
Em nossas oficinas em Cabo Frio, pessoas ilustres da vida artística da cidade já passaram por nós, como o excelente músico, ator e palhaço Daniel Arm, que, hoje, com seu personagem Casquinha, já encantou centenas de pessoas em nossa região. Também tivemos a presença das amigas tão queridas Fátima Pessanha e Vânia Petra e, recentemente, o queridíssimo casal Diogo Rodrigues e Alexia Fernandes que, mergulharam fundo na arte da  palhaçaria, participando de cortejos e contribuindo fortemente para a difusão dessa forma de arte na cidade de São Pedro da Aldeia.
Agora, só nos resta, aguardar ansiosamente pelos dias 18 e 19 de Junho, para, juntos, vivermos mais um belíssimo sonho artístico, capitaneado pela nossa tão bela equipe, formada por eu, Jiddu Saldanha, Nathally Amariá e Kéren-Hapuk. Com um belo reforço de produção local, capitaneado por Diogo Rodrigues, estamos nos preparando para proporcionar um bonito mergulho na arte palhaçaria, sem dúvida, mais um capitulo na história artística de nossa região.



quinta-feira, 5 de maio de 2016

Um Cabaret em Cabo Frio? Oba!

Saber que o "Ambulatório de Palhaços" irá realizar seu primeiro Cabaré em Cabo Frio, é uma ótima notícia para toda a cidade. Traz para a realidade artística local, mais uma iniciativa para animar a vida cultural da cidade que, carecia de mais acontecimentos no mundo da diversão diferenciada.

O ambulatório de palhaços em seu primeiro Cabaré, em Cabo Frio.
Cabo Frio é uma cidade repleta de bares e casas de shows, quase todas, focadas no despojamento do encontro. A vida noturna da cidade, sempre foi badalada e emprega muitos músicos, oferecendo uma variedade deles e, diga-se de passagem, excelentes artistas. Assim, você pode curtir a noite da cidade e se deparar com o forrozeiro Malagueta, tocando em algum lugar; ou pode curtir um Ulices Rabêlo, Um Tom Zahir, um Azul Casu, e muito mais. Se você der uma esticada até o Don Caballero, certamente verá alguma novidade na música alternativa. Mas o que falta à cidade é a diversão teatral, a arte da variedade, o sarau, enfim, um cabaré.
Um evento diferente e muito especial!
O conceito de Cabaré é variável e, no final do século XIX até a metade do século XX, era um espaço para a variedade artística. Pelo palco de um Caberé passavam artistas de diversos matizes. Você podia ouvir um poeta, um sapateador, uma bela corista, e um show musical com lindas vedetes. Era também o espaço dos palhaços, os que usavam e os que não usavam narizes. Palhaços mímicos, com habilidades circenses, mágicos, etc... enfim, o Cabaré era quase um circo, a única coisa que não tinha era números com animais.
Na década de 30, do século passado, os cabarés chegaram ao auge em países como França, Alemanha e Itália. Era sempre o lugar onde se tomavam grandes porres para falar do amor perdido, das ilusões da vida, de separações, reencontros e planejar trabalhos artísticos. No Rio de Janeiro, alguns desses lugares ficaram famosos como, por exemplo, o "Café Nice", que ficou imortalizado na música do Nilton Carlos... "Ai que saudade me dá, do bate papo, do disse me disse, lá no café nice"! Lembro que meu pai, foi um frequentador de cabaré. No pós guerra, com a tecnologia surgindo, o advento da Televisão, o telefone sendo aprimorado, as viagens aéreas. A vida dos cabarés foram minguando e o que restou foram bares e clubes, mas sem aquele glamour dos anos 30. 
Na decada de 90, quando cheguei no Rio de Janeiro, comecei a ver renascer a cultura dos cabarés, dessa vez, modificada e recriada pelos artistas do picadeiro. Foi nos anos 90 que o circo ganhou força novamente. Com a escola nacional de circo a todo vapor, surge um forte movimento de palhaços independentes, no circo voador e na fundição progresso. Tive o privilégio de ver nascer ali, artistas, hoje de renome como Márcio Libar, Júlio Adrião, Ana Luiza, o grupo "As Marias da Graça". Lembro que era o auge da "Intrépida Trupe", o surgimento dos "Irmãos Brother" e a consolidação da Up Leon e, claro, o grupo que amalgamava todas essas energias, o belíssimo e incrível "Teatro de Anônimos". 
Nesse contexto começaram a ressurgir os cabarés de palhaços no Rio de Janeiro. Lembro que a "Noite de Parangolé" estava começando e não eram poucos os artistas que iam para a fundição progresso para mostrar seus novos números de palhaçaria frente a uma platéia boêmia.
Esta semana, recebi com grande alegria, a notícia de que o Teatro Garagem, sede do grupo Creche na Coxia, está criando, em Cabo Frio, uma noite histórica, através do grupo "Ambulatório de Palhaços", sem dúvida, um momento esperado, ha muito tempo. O show de variedade em si, é tão importante quanto o uso do termo CABARÉ. Com isso, estão abrindo nova perspectivas para o desenvolvimento da vida artística e, principalmente, da prática do ofício em nossa cidade. 
VEM AÍ, O PRIMEIRO CABARET DE PALHAÇOS DE CABO FRIO.

SERVIÇO:
I Cabaré de Palhaços
Data: 07 de Maio de 2016
Local: Teatro Garagem
Hora: 20h.

Jiddu Saldanha - Blogueiro

quinta-feira, 24 de março de 2016

O Palhaço - Um filme sobre o trabalho de uma vocação.

Dentre tantas coisas belas da vida, o filme "O PALHAÇO", de Selton Melo, conquistou o inconsciente nacional como verdadeira obra prima. Lançado em 2011, o filme se tornou uma referência para quem curte a arte da palhaçaria. Para mim, que viveu os anos 70, tenho uma imagem clara do circo, sendo exatamente da forma como é relatada no filme.


"O Palhaço" direção e atuação impecável
de um jovem cineasta, Selton Mello

O Filme “O Palhaço” de Selton Mello foi mais uma feliz surpresa do cinema nacional! Desses filmes que deixam uma lembrança, uma imagem, não do circo enquanto linguagem apenas mas de um circo que arma lonas dentro da gente. Foi assim que me senti pelas duas vezes em que vi  o filme. Uma reflexão sobre a vocação do artista, a grandeza da arte na simplicidade cotidiana de uma profissão, outrora, desprezada e que hoje goza até de um certo glamour, a profissão do palhaço.
Impossível não ir nas referências e reminiscências, “O Palhaço” é mais que um filme, é um engajamento na busca do ser artístico e foi assim que me percebi o tempo todo enquanto sentia as fisgadas de todo aquele processo de solidão envolto numa profunda melancolia. Selton, certamente pode contar com uma ótima equipe, a direção de arte, a fotografia, os tons amarelados como se fosse decalque, uma espécie de película sobre a película cinematografia.
Paulo José, Teuda Bara, Moacir Franco, Ferrugem... nossa! Quanta surpresa, tudo no filme tem história, as músicas de uma profunda poesia e a marca indelével da melancolia que aferra cada lugar por onde o circo “Esperança” passa.  Uma viagem pelo universo cultural dos anos 60/70 mostrando uma época, um passado, um Brasil sem smarth phones, sem internet e que pude viver um pedacinho. A captação do espírito musical e sonoro daquela época, permeada por um silêncio bucólico. Uma época em que se podia topar com uma caravana circense inteira, indo para algum lugar. Era a a época dos circos e artistas que viajavam, anônimos, pelo gigante Brasil. Deu saudade!

Paulo José, a afirmação de um mestre, num dos mais belos filmes de sua
carreira - "O PALHAÇO".
Mas o filme se torna arquetípico quando mostra a realidade do profissional de circo e que, no fundo, somos todos nós, com nossas indecisões. Querer ser artista e ao mesmo tempo desejar ter uma vida mais “segura” com um emprego fixo, uma vida “normal”, pegar ônibus, ir ao trabalho, encontrar um amor. Enfim... um roteiro feliz e inesquecível!
(Jiddu Saldanha)

FICHA TÉCNICA

Diretor: Selton Mello
Elenco: Selton Mello, Paulo José, Giselle Indrid, Larissa Manoela, Teuda Bara, Erom Cordeiro, Cadu Fávero, Maíra Chasseraux, Thogun, Hossen Minussi, Alamo Facó, Tony Tonelada, Bruna Chiaradia, Renato Macedo
Produção: Vânia Catani
Roteiro: Selton Mello, Marcelo Vindicatto
Fotografia: Adrian Teijido
Trilha Sonora: Plínio Profeta
Duração: 90 min.
Ano: 2011
País: Brasil
Gênero: Comédia
Cor: Colorido
Distribuidora: Imagem Filmes
Estúdio: Bananeira Filmes
Classificação: 10 anos

Trailler oficial

quarta-feira, 16 de março de 2016

A Música e a Palhaçaria.

"Purezempla" palhaça tocadora de saxofone.
A Musicalidade do palhaço é bem vinda, compõe uma de suas habilidades; aliás, muitos artistas aprofundam a linguagem musical, através da palhaçaria. Começam simplesmente utilizando o instrumento para tirar som, executando uma única música, durante o show e, com o tempo, a habilidade se amplia e evolui para uma musicalidade que, pode até virar uma habilidade específica do artista. O que parece ser difícil para muita gente, torna-se uma habilidade com desdobramento e desenvolvimento que passa a ser um verdadeiro luxo na linguagem que acaba levando o público ao êxtase.
São inúmeros palhaços que tive o privilégio de ouvir tocar, fazendo seus números inesquecíveis, um deles é o palhaço Xuxu, do incrível artista Luis Carlos Vasconcelos, que além de excelente palhaço é, também, um ator de cinema. Xuxú, depois de mirabolantes jogos com a platéia, tira de seu acordeon, uma inesquecível melodia que, completada com seu olhar de ternura, arranca suspiros e vivas do público completamente apaixonado. Tive o prazer de assistir este palhaço por mais de 5 vezes e é impressionante seu número de acordeon.
Iran Silveira - Palhaço Biriba e seu belo solo de garrafas,
quem viu nunca irá esquecer.
O mestre Richard Riguetti, do grupo Off-Sina foi dando vasão a uma musicalidade que hoje é variada e rica. Ele começou com um simples número de acordeon e hoje em dia apresenta um homem banda completo, além, claro, de continuar extraindo melodias incríveis de seu magnífico mundo mágico de instrumentos variados. Quem vir Café Pequeno, liderando um cortejo de palhaços, vai ficar impressionado com a força e energia de sua arte bela e tão rica de melodias e gags que faz a platéia chorar de rir.
Outra palhaça incrível, que tive a honra de conhecer foi Purezempla, a palhaça criada por Maria Tereza, mineira de São João del Rei e que aprofundou seus estudos na ESLIPA - Escola Livre de Palhaços. Purezempla, com sua paixão por instrumentos de sobro, tem preferência por Sax, já o palhaço Tatuí, de Dio Jaime Vianna, que toca diversos tipos de instrumentos de sopro, destacando a tuba, chama atenção com sua magnífica performance sonora, que faz dele uma verdadeiro show à parte por onde anda com seus instrumentos exóticos.
Em Cabo Frio, não há dúvida de que a atriz Kéren-Hapuk, com sua palhaça Hermetinha (nome inspirado na figura de Hermeto Pascoal), não só, tira sons melodiosos de seu violino "velho", como investiga a possibilidade sonora de diversos outros instrumentos. A paixão de Keren-Hapuk por música, a colocou como diretora musical de diversos trabalhos em Cabo Frio, voltados para o teatro, e a palhaçaria. Atualmente ela é facilitadora musical da oficina de palhaçaria da Cidade de Palhaços, projeto realizado em Cabo Frio e região dos lagos.

Pelas ruas de Cabo Frio, o cortejo da "Cidade de Palhaços" mostra que cada palhaço tem sua intimidade com o instrumento
que carrega. O importante não é tocar bem, mas tocar para o bem!
A música e a relação com instrumentos musicais, no contexto da arte do palhaço, é vista como uma "habilidade a mais", no trato com o público, entretanto, um palhaço pode mergulhar na musicalidade e criar números inteiros, inspirado nessa forma de sentir e ver o mundo, podendo ser de grande benefício para o artista que, ao descobrir tal habilidade, pode desenvolver um talento que vai ficar para sempre no coração do criador de risos...

Jiddu Saldanha - palhaço, mímico e professor de teatro.

sexta-feira, 4 de março de 2016

O Palhaço e a Moda!

Um palhaço nunca será igual ao outro, impossível. No entanto, aqueles que fazem muito sucesso podem gerar imitadores!


BIP - Marcel Marceau e CARLITOS - Charles Chaplin, estão entre os
estilos de figurinos mais imitados, por fãs do mundo todo.
Numa visão geral a moda palhascesca não tem muita lógica, porém, ela coloca um pouco da visão, não só de ridículo, mas estética e a percepção artística do próprio criador, diante da criatura. Talvez, por isso mesmo, nenhuma forma artística exibe tanta originalidade e diversidade ao mesmo tempo. O ideal de moda do palhaço, nunca será atingido pela sociedade de consumo, porque este olhar específico vem da alma de cada artista e sua ligação com o mundo. Quando você acha que viu de um tudo, começa a descobrir que vem muito mais por aí.
Um palhaço nunca será igual ao outro, impossível. No entanto, aqueles que fazem muito sucesso podem gerar imitadores, mas isso é muito raro, talvez os únicos palhaços que conseguiram gerar imitadores, de fato, foram: Marcel Marceau e Charles Chaplin. Em ambos os casos, a roupa, apesar de ter detalhes bem focados na arte do palhaço, também
Naan e Koy: Personagens do  IMAGINÁRIO, de Cabo Frio,
chapéus trabalhados na forma, e a tropicalização
de contrastes de cores. Foto: Thiago Andrade
fizeram, de alguma forma um link mais direto com a forma natural de se vestir, buscado um contraste de cores mais simples e cortes mais clássicos, tornando-os universais e fáceis de imitar.
Marceu Marceau e seu personagem Bip, cuja indumentária de corte simples e com detalhes bem específicos e cores sóbrias, fez nascer um fascínio mundial pelo mesmo corte de roupa, fazendo com que, uma boa parte dos mímicos buscassem inspiração em sua forma de vestir a personagem que imortalizou a pantomima, como forma definitiva de arte independente da dança e do teatro. Já, Charles Chaplin criou seu personagem Carlitos, redesenhando a própria forma de vestir, em sua época, porém, com detalhes exagerados como, por exemplo, a forma alongada do sapato com bico ligeiramente levantado e aparência gasta e acessórios como a Bengala, por exemplo, bem comum em sua época. A sua, porém, tinha detalhes que destoavam de um conjunto mais usual, tornando-se, claramente, um objeto de releitura de seu próprio contexto.
Em Cabo Frio, dois detalhes chamam a atenção na moda artística local, a forma simples do grupo "Imaginário", que tem uma leve inspiração nos cortes clássicos da era Bip e Carlitos, porém, com camadas de corte tropical, tanto na maquiagem, como nas cores da roupa em si. A pesquisa do grupo Imaginário como forma de vestir personagens fixos em situações diferentes, propõe uma possível construção estético-visual que, com o tempo, poderá ser fruída dentro de um conjunto, onde, certamente, novos adereços e possibilidades irão
Hermetinha, personagem criada por Kéren-Hapuk, a forma do cabelo
e o colar com 4 argolas, dão um ligeiro contraste com a roupa de corte
clássico. Foto: Manuela Paiva Ellon
surgir. Como visão artística e poética, o grupo imaginário parece mergulhar numa essência que, certamente, está contribuindo para a "moda palhascesca contemporânea".
Outro tipo de roupa interessante é a da palhaça Hermetinha, de Kéren-Hapuk, que, certamente, não só reflete a visão estética de sua criadora, mas que resultou numa feliz descoberta onde, o desenho da roupa, o contraste simples das cores e a forma como ela posiciona o cabelo, acaba dando uma visão completa de uma imagem melancólica e fluida com um resultado interessante. O detalhe do colar, feito por 4 anéis vermelhos pendurados por uma fita de náilon, contribui para uma harmonização entre os cortes secos e clássicos da roupa para uma harmonia que faz o público se prender a detalhes e ao mesmo tempo fluir na forma simples e musical da personagem.
Enfim, não existe uma "moda específica" para a palhaçaria, no entanto, algumas atitudes estéticas segue um padrão, como, por exemplo, enfeitar a personagem com detalhes e adereços que diga respeito à visão de mundo do próprio criador da personagem em si. Estabelecer uma relação emocional e, muitas vezes, familiar, com algum detalhe que remeta à família do próprio artista em questão e/ou, até mesmo, aos seus ídolos e ícones, que ditam o conceito de sua própria vida. Os palhaços, na sua maioria, criam suas roupas num primeiro momento, mas seguem reinventando-a, até o momento em que descobrem o seu ponto definitivo.


(Jiddu Saldanha - Mímico, palhaço e professor de teatro).